segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Voltar

Foi ali. Embora tivesse demorado pouco foi o suficiente para que acontecesse. Foi ali, mesmo pela hora da calma. Bateu-me, assim, do pé para a mão, como se o mundo começasse ali, na sombra.
É de parvos olhar uma vida inteira e confiar nos espelhos, num mero reflexo que só de si é frio, vazio e que se esconde despudoradamente as incertezas que mostra.
Estás a ver? Daquela casa com baixo ocre, para cima, é a terceira porta. Sim, é a única sem janela. Faz agora uma data de anos que aqui não vinha, que sonhava… Voltei num ai, de certa forma, á poeira das ruas que Janeiro tornava lama, regatos de viagens simples em folhas mortas que terminavam abruptamente no sumidoiro do largo, onde acabavam todas. Olha, é nesta porta castanha. Dantes era de madeira, com duas folhas e postigos. Daqui abarcava o mundo. As horas, lentas, consumiam-se em sonhos e enervavam a espera. Sentia-se no ar uma impaciência que se cheirava na t-shirt ensopada de suor. Era a sesta. Dos outros, aqui em casa. Como era também na dos outros.
É estranho voltar… Lá é diferente, ou nem por isso.

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